O impacto no desempenho é uma das primeiras consequências desse estado de desânimo prolongado.
InfoMoney
O desânimo pode ser considerado um mal no mundo corporativo atual, que privilegia o estado de alerta e de atividade constantes. Perder a disposição para trabalhar, no entanto, pode ser uma consequência desse cenário, para muitos, cansativo, mas que passa com um período de descanso. O problema é quando esse sentimento se mantém por um longo período. Quando isso acontece, talvez seja hora de reavaliar a carreira.
E foi isso que a publicitária Ana Cláudia Fernandes, 29, fez. Ela trabalhava em uma empresa de tecnologia, como analista de mercado, quando o estado de desânimo passou a ser permanente. "Eu não estava feliz", diz. E a primeira consequência disso foi nos resultados, que começaram a ficar abaixo do que a publicitária poderia alcançar.
O impacto no desempenho é uma das primeiras consequências desse estado de desânimo prolongado. Mas esse pode ser o menor dos problemas. "Essa desmotivação no trabalho pode afetar a vida pessoal, a qualidade de vida dessa pessoa", afirma a psicóloga e presidente da ISMA-BR (International Stress Management Association), Ana Maria Rossi. "A pessoa passa a não ter mais prazer na vida, pode passar a ter comportamentos que geram conflitos e até chegar a se valer de álcool e drogas", alerta.
Ana não chegou a esses extremos em sua vida pessoal, mas chegou ao extremo na vida profissional. Depois de alguns meses, ela trocou de emprego. "Eu não estava na empresa certa pra mim. Não me identificava com a cultura dela. E acho que quem não se identifica deve sair mesmo", acredita. Dessa vez, a publicitária acertou na escolha e trabalha em uma empresa cuja cultura condiz com o seu perfil profissional.
Sem forças para continuar
"Se há um desânimo, é porque tem algo errado", afirma a consultora da Career Center Claudia Monari. Para a consultora, são vários os motivos que podem levar os profissionais a um estado de desânimo profundo. "O clima pode não ser amistoso, ou existe muita pressão. Isso pode gerar desânimo", aponta a gerente de Recursos Humanos da Personal Service, Marcela Melissa.
A especialista ainda coloca na lista a própria frustração do profissional com a área na qual atua. "Muitas vezes, ele criou uma expectativa que não foi suprida", diz. Nessa hora, o melhor é se fazer perguntas pouco confortáveis. "Será que você está satisfeito e realizado? O profissional precisa se auto-perceber e tomar consciência da sua própria situação", considera Marcela.
Um desafio muito além ou muito aquém da capacidade do profissional também pode gerar descontentamento. "A pessoa pode estar pouco ou muito qualificada para executar esse trabalho", afirma Ana Maria, da ISMA-BR. "Nesse caso, há um desequilíbrio entre o que ela pode fazer e o que ela tem para fazer", considera. A psicóloga explica que casos como esses geram frustração.
Mas não é só isso. Recompensas financeiras desalinhadas com o trabalho executado pelo colaborador e a falta de reconhecimento pelo desafio superado também levam os profissionais a perderem suas forças. Tudo isso sem contar os problemas pessoais, que interferem – e muito – no desempenho de qualquer pessoa, principalmente entre aquelas que unem os dois campos da vida, o profissional e o pessoal.
Para além das próprias motivações, outro fator que pode desencandear a desmotivação é o líder. "O mais comum é quando há uma troca de gestão, porque há uma mudança na forma de trabalho", afirma Claudia. Marcela ressalta que o profissional precisa perceber se a liderança imediata o ajuda a se desenvolver. "Ele transforma você em um profissional com mais 'know how'?", questiona a gerente de RH.
Mude e melhore seu desempenho
Apesar de o líder ser um dos motivos que podem gerar desânimo, ele também é parte da solução do problema. "Ele precisa chamar a equipe para si e ficar atento aos sinais de desânimo", avalia Marcela, da Personal Service. Isso porque, um profissional desmotivado pode contaminar uma equipe inteira. "Dependendo da maturidade dessa equipe, ela traz esse profissional de volta ou começa a pensar como ele", afirma.
Por isso, quando constatados os motivos que levaram o colaborador a perder as forças, muitas vezes, uma conversa com a liderança pode melhorar o desempenho e reverter a situação. "Se for pelo fato do desafio ser grande demais, o líder pode ser um coaching. No caso contrário, ele pode mostrar para o profissional o que falta para ele conseguir alcançar esse desafio maior", explica Claudia, da Career Center.
Até chegar nessa etapa, porém, os questionamentos devem ser colocados sobre a mesa. Para as especialistas, são elas que tiram o colaborador da sua zona de conforto, podem resultar em respostas ainda mais desconfortáveis, mas são os únicos meios de fazer o profissional entender o que está acontecendo com ele e com sua carreira. E, com essas respostas, é possível chegar a uma solução e melhorar o desempenho profissional, como fez a publicitária Ana.
Antes de decidir mudar de empresa, ela fez uma autoánalise para constatar o que a incomodava. E descobriu que o seu descontentamento advinha de determinados fatores. "O clima não era confortável, as pessoas eram distantes, havia uma ausência de autonomia para atuar e não havia espaço para o meu crescimento profissional", explica.
Ela só chegou a essas conclusões porque fez um balanço de sua carreira e do seu perfil profissional. Fazer isso requer tempo e uma dose cavalar de autoconhecimento e sinceridade consigo mesmo. A tarefa não é simples, mas precisa ser feita se o profissional quiser sair desse estado de desânimo, na avaliação de Claudia, da Career Center. "A melhor coisa que ele tem de fazer para resolver esse problema é se conhecer bem e ter um objetivo de carreira definido, porque ainda que ele passe por obstáculos, ao menos ele sabe o caminho que ele está trilhando".
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